sábado, 2 de abril de 2011

A LEGIÃO DE LEÕES DE CIRCO

Por José Geraldo Pimentel (*)

Eu tenho que refazer os meus conceitos sobre o que seja o sentimento de brasilidade, de amor à farda, de muitas coisas pequenas que insisto em guardar com carinho numa gaveta ou numa caixa de papelão.

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Lá vem o velho chavão: ‘com muito orgulho’, ‘orgulho de ser brasileiro‘. Se fosse um homossexual, com muito ‘orgulho de ser gay‘! No Brasil tem-se orgulho de tudo, menos, é claro, de ser negro. Se o sujeito chega perto de você e o chama de negro,... Já era! Você pensa logo em amealhar uns trocados sem acertar na loteria; porque trabalhando duro, ninguém fica rico!
Saindo das recordações pessoais, gostaria de mergulhar em alguns fatos que vêem me intrigando ultimamente. Falar o que penso, por exemplo. Imaginei que escondido em algum lugar houvesse, por exemplo, companheiros de farda que não estariam satisfeitos com tudo de ruim que vem desabando sobre as nossas cabeças. Pensei que haveria nalgum canto perdido neste Brasil imenso, uma pessoa que fosse, pudesse estar inconformada com as pauladas que todos os dias são desferidas contra as Forças Armadas. As ofensas são abertas, partem de pessoas esclarecidas, empostadas em cargos relevantes da república, e nada. Nenhuma reação. Raríssima, com consequência para os minguados insatisfeitos. O restante da ‘legião’ de milicos fica no seu canto acuado. Isso me faz ver diante de meus olhos, não um Exército de soldados briosos, orgulhosos de suas fardas; mas uns leões de circo. Rugem, mas não mordem. Confesso que tenho entrado furtivamente no depósito aonde são deixadas as jaulas, e futucado com vara curta esses outrora valentes soldados. Mas nada. Nenhuma reação. Só medo e recolhimento a um canto.
O indivíduo é como os animais. São valentes enquanto estão amarrados com correntes curtas. Meu cão Spit, um bichinho preto, digo, negro, trazido de Portugal por uma de minhas filhas, comporta-se como uma fera feroz ao me aproximar de outro cão, seja pequeno ou enorme. O moleque late desesperado, querendo partir para o ataque. Eu, cuidadoso, algumas vezes me aproximo do outro animal, também preso numa corrente, claro, e ao cruzar por ele, meu cãozinho cessa de latir e continua feliz, como querendo demonstrar que apenas gosta de presepada. Não é de briga realmente. Gosta de se exibir. Mas o nosso soldado não reage, nem quando é chamado de ‘bando’, de ‘covarde’, desafiado com termos como: ‘não tenho medo de confrontamento’. Estaria sofrendo da Síndrome de Estocolmo?
Esta semana parecia que os nossos soldados iriam dar um bote em cima do ‘inimigo’ e cravar uma dentada daquelas de arrancar a orelha. Mas nada. Foi só chegar o dia 31 de março e o meu cão Spit, tão valente em outros tempos, recolheu-se à sua insignificância mórbida e enfiou o rabo entre as pernas. Gritei: - Estou no mato sem cachorro!
O meu bichinho de estimação era um cagão como tantos outros que vejo trancado numa jaula de circo.

Desisto de fazer traquinagem. Nada de imitar os meus tempos de garoto quando pulava o muro do meu vizinho e ia furtar frutas em seu quintal. Não quero mais me envolver com essas feras de araque, que só pensam naquilo. Esclarecendo. Em se dar bem quando passarem para a reserva. Um cargo comissionado num país estrangeiro. Um pró-labore em uma estatal. Dinheirinho sagrado que cai muito bem no bolso desvalido de um milico faminto!
Voltando à prática do racismo. Em minha opinião, racistas são os aproveitadores que se imaginam entrando em uma universidade despreparados, analfabetos de pai e mãe, só porque Deus lhes deu o dom de ter nascido negro. Nem pensa em pleitear um ensino fundamental de primeira qualidade para disputar uma vaga em igualdade de condições com os ‘branquicelas de olhos azuis’! Nem pensa em qualificar-se profissionalmente para disputar um emprego numa empresa, ou habilitar-se, através de concurso, para chegar a um cargo de funcionário público. Quer entrar pela porta dos fundos, beneficiado pela imoralidade de uma reserva destinada às pessoas de cor. Nunca pensei que ser negro, fosse uma deformidade genética. É-se branco, negro, amarelo, de qualquer raça! Apelar para a lei do menor esforço não é nada edificante!
- Vou processar o deputado por ter me chamado de negra! Diz a espertinha, querendo safar os prejuízos de seus shows, com uma atitude nada digna de uma pessoa comum.
- Vou processar o deputado por homofobia. Ele me chamou de veado! Aí está certo. Um homem é um homem, independente de sua preferência sexual. Mas quer compará-lo a um animal, vai muito longe.
Ganhar dinheiro de maneira ilícita, não é nada honroso. Essa moda de levar vantagem em tudo caiu no gosto popular. Tem até oficial general que por eu ter censurado a sua atitude menos corajosa ao deixar o seu público no sereno sem apresentar a palestra tão ansiosamente esperada, me ameaçou de processo.
“Não repita acusações infundadas porque irei processá-lo por calúnia e difamação.”
A ‘acusação infundada’ a que se refere é a transcrição de um texto intitulado “Testemunho sobre a personalidade do Gen. Heleno” escrito por um vice almirante, filho de um ex ministro do Exército, ao qual o general serviu como ajudante de ordem. Não inventei. Toda a matéria que escrevo é fundamentada em artigos postados na imprensa, e assino embaixo com nome e posto, nunca uso do recurso do anonimato.
Mais um que quer assaltar a minha algibeira. Não sabe, sabe, mas finge desconhecer que milico é um desprotegido dos deuses. Ando mais na pindaíba do que o ilustre general que só se apresenta com o uniforme de campanha. Aquela coisa de família pobre que faz as crianças ir para a escola com um pé no chinelo, disfarçando a falta de um calçado. Com este recurso duas crianças podem assistir às aulas usando o mesmo calçado. Inteligente.
Mas não é só o general que quer mamar nas minhas tetas. Um capitão da Aeronáutica me ameaçou de processo. “Vou tomar muita cerveja às suas custas!” Disse. Pode! Assim termino pedindo falência.
Maltratar os velhinhos caiu no gosto popular. O general me chama de velhinho caquético, portador de bengala para me apoiar e coisas que aborrecem aos mais passadinhos pelo tempo. Diz textualmente:
“- Gostaria de saber dos seus feitos quando estava na ativa. Pela sua arrogância, deve ser herói de guerra ou algo parecido.”
Putz grill! Vou fazer uma plástica e encher a cara de botox, como aquela ex primeira dama, que foi agraciada com uma medalha por ter elogiado a entrada da mulher no quadro de aviadores da Força Aérea Brasileira.

O capitão referido acima também só se dirige a mim chamando de velho. E o sujeito tem 52 anos, não é nenhum garotão de Ipanema! Ser velho é sinal de experiência de vida, e quando mete o pau em certas criaturas miúdas, com embasamento e dados concretos, indica que o ‘velhinho’ ainda está bem lúcido.
Esse general me faz lembrar o comunista João Mangabeira. Levou a garotada para a selva, e quando pressentiu a aproximação das forças militares, picou a mula, deixando-a entregue às traças!
O general diz em seu e-mail malcriado que me mandou: “... não teria qualquer prazer em liderar gente da sua espécie.”
Não caio em qualquer esparrela. O exemplo do João Mangabeira é elucidativo. Jamais eu o seguiria. Há líderes e líderes!
É essa constatação que demonstra o estado de desânimo e baixo astral em que se encontram as FFAA. Desaparelhadas, tropa passando fome com salário aviltante, e instrução deficiente por falta de manutenção em tempo integral dos recrutas nos quartéis. Pergunto: Vossa Excelência conhece os problemas da tropa, ou sabe através de leitura de denúncias em jornais? Não basta estar sentado atrás de uma mesa confortável, num gabinete refrigerado, para estar a par da situação de seu Exército.
Não repetiria as suas palavras: “- Lamento muito que você tenha sido tão mal formado ao longo da carreira.”
As FFAA dão o melhor dos seus esforços na formação de seus quadros. Com Vossa Excelência deve ter acontecido a mesma coisa. Infelizmente, como Vossa Excelência mesmo diz: “- A tropa, em qualquer situação, é o reflexo de seus chefes.”
E pare de rugir atrás das grades. Estou cheio de ameaças. Um capitão que diz ser formado em engenharia, raivoso porque fiz elogios nada simpáticos à guerrilheira que hoje preside o país, já me ameaçou de morte. “- Você vai aparecer com a boca cheia de formigas e não vai saber de que morreu!”
- ‘Elementar, meu caro Watson!’ Desde quando ‘presunto’ sabe de que morreu!
- Urrr!

(*) É Cap Ref EB

Fonte: Pequenas Histórias

COMENTO: não o conheço pessoalmente, mas tenho grande respeito pelo General Heleno. Por outro lado, não poderia deixar de divulgar o posicionamento do Capitão Pimentel, que expressou o descontentamento ou a frustração de grande parte dos militares que aguardavam um ato de liderança no passado dia 31 de Março, como ratificação de que nossos antigos líderes da segunda metade do século passado não agiram de forma errada. Entende-se que o cumprimento da disciplina e da hierarquia levaram tanto o General Heleno quanto o Comandante Militar do Nordeste a cancelarem as solenidades que haviam previsto em comemoração à data, em virtude da ordem dada para esse cancelamento. É difícil entender a expedição de tal ordem! Lendo o texto sobre a "personalidade do Gen. Heleno", nada encontrei que o desabonasse, assim, não entendi a relatada ameaça de processo que teria sido feita ao Pimentel. Quanto ao puxa-saco da FAB que fica latindo como o cãozinho do Pimentel, não sei de quem se trata mas manifesto aqui o meu solene desprezo.

Do blog do Mujahdin Cucaracha.

Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga).

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