quarta-feira, 8 de junho de 2011

MEU AMIGO "RIO GUAÍBA"

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 07 de junho de 2011.

“Existem várias teorias e argumentos apresentados por professores e pesquisadores ao longo dos anos, muitas vezes com uma bem qualificada desenvoltura sintática, para concluir o que contraria a lógica. É o mesmo como afamados advogados conseguem ‘provar’ perante um júri que um réu comprovadamente culpado é inocente. Não podemos no entanto, partir do princípio de que tudo que está escrito é fato consumado, mesmo reconhecendo o mérito e a idoneidade dos autores. É oportuno, necessário e democraticamente saudável poder divergir das conclusões, tratando-se de um assunto polêmico e em grande parte subjetivo”. (Comandante Geraldo Knippling)

- “Rio Guaíba”

No período da glaciação o nível do mar se encontrava há mais de vinte metros abaixo do nível atual e, consequentemente, o Guaíba depois de percorrer seu sinuoso trajeto se espremia no canal de setecentos metros de largura entre a ponta da Fortaleza e a bela Ilha do Junco para depois se lançar para a planície costeira, ainda não existia a Laguna dos Patos. No final da glaciação o nível das águas se elevaram alterando a geografia e, portanto, o nome dos acidentes naturais. As profundidades dos corpos d’água diminuíram significativamente, em decorrência do assoreamento fruto dos sedimentos levados pelos seus afluentes. Apenas o canal da Ilha do Junco parece ter conservado sua profundidade original graças à velocidade da correnteza pela garganta estreita e rochosa que impede que os sedimentos se depositem.

O nome do gaúcho caudal tem origem indígena, “gua” significa grande, “i” - água ou rio e “ba” – lugar ou seja “lugar onde o rio se alarga”. Suas águas ocupam uma área de quase quinhentos quilômetros quadrados que se estendem por 50 quilômetros, e uma largura que varia de quase 1 até formidáveis 19 quilômetros entre a Vila de Itapoã e a foz. O assoreamento contínuo o deixou com uma profundidade média de três metros e um canal de navegação entre quatro e seis metros, e na altura da Ilha do Junco, segundo alguns pesquisadores, em torno dos cinquenta metros.

Durante toda a sua existência foi considerado Rio, mas há pouco mais de vinte anos, depois de um polêmico estudo feito por técnicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de universidades norte-americanas, foi classificado como Lago. Mais uma vez observamos omissos e calados o interesse imobiliário procurando se sobrepor, de qualquer maneira e qualquer custo, através de artifícios legais, às questões ambientais. Definido como Lago, e não Rio, diversas medidas protetoras e restrições em relação à ocupação criminosa de suas margens estariam liberadas.

– Velho Amigo

Depois de minha Descida pela Laguna dos Patos, de Porto Alegre a Rio Grande, dei uma parada nos treinamentos. Precisava recuperar meu caiaque e minha velha carcaça a quem não dera descanso desde minha última “Descida pelo Rio das Amazonas”. Os rigores do inverno precisam ser enfrentados, não posso me acomodar, colocaria em risco o êxito da próxima jornada pelos Rios Madeira e Amazonas, em um percurso de quase dois mil quilômetros, que se iniciará no dia 22 de dezembro do corrente ano.

As manhãs ensolaradas do último fim de semana convidavam à navegação e como o tempo estava esquentando optei por usar, em vez da roupa de neoprene longa (long), a curta (short). Os ventos fracos de Oeste e as ondas de través de pouco mais de meio metro não dificultaram minha progressão até o Parque Fazenda Itaponã, um passeio curto de vinte quilômetros apenas. Aportei na bela praia de areias brancas do balneário e fiz uma pequena caminhada, de dois quilômetros, até a casa do Juarez Boneberg.

Antes passei pela casa abandonada onde residia o senhor Américo, falecido há um mês. Uma profunda tristeza me invadiu. Sempre que aportava no Parque procurava o amigo para avisar que me encontrava na área, vez por outra ouvia suas histórias de pescador ou o acompanhava quando ia alimentar os animais ou cuidar da horta. O velho sábio, na sua simplicidade, discorria com uma encantadora naturalidade sobre seus animais e suas plantas, um homem simples e bom que sabia interpretar as leis da natureza. Que o Grande Arquiteto do Universo te receba com muito carinho velho amigo, vou sentir muito tua falta.

Por volta das treze horas cheguei à casa do Juarez. Pedi a ele para me mostrar a grande horta protegida por uma nova cobertura plástica. Não tinha idéia de que existissem tantas espécies de alface, o Juarez nominou cada um dos dezesseis tipos e me ensinou a respeito das técnicas de cultivo delas e das demais hortaliças. Logo depois visitamos o pomar onde saboreamos deliciosas bergamotas. As nuvens encobriram o Sol e, imediatamente, a temperatura caiu.

Bergamota (Citrus reticulata): fruta cítrica de cor alaranjada e sabor adocicado, originária da Ásia. Também conhecida como mexerica, mandarina, laranja-cravo, mimosa, vergamota, tangerina ou poncã.

Resolvi voltar, arrependido de não ter usado o “long” para me proteger melhor do frio. O vento havia diminuído, menos mal, não corria o risco de ser molhado pelas frias águas do Guaíba. Piquei a voga para aquecer o corpo e cheguei às dezesseis horas à Raia 1, meu porto, depois de mais um treinamento, desta feita, monótono e triste.

– Blog e Livro

Os artigos relativos ao “Projeto–Aventura Desafiando o Rio–Mar”, Descendo o Solimões (2008/2009), Descendo o Rio Negro (2009/2010), Descendo o Amazonas I (2010/2011), e da “Travessia da Laguna dos Patos I (2011), estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog http://desafiandooriomar.blogspot.com.

O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre. Pode ainda ser adquirido através do e–mail: hiramrsilva@gmail.com.

Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false
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Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar (IDMM); Vice Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Blog: http://desafiandooriomar.blogspot.com

E–mail: hiramrs@terra.com.br

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