terça-feira, 12 de junho de 2012

GEOENGENHARIA PODE DESTRUIR O AZUL DO CÉU

Além dos efeitos não previstos, a ideia de injetar aerossóis na alta atmosfera da Terra para minimizar os efeitos do "aquecimento global" pode ter um efeito bem visível: destruir o azul do céu.
Há mais críticos do que adeptos às propostas de manipular deliberadamente o clima terrestre, que é a proposta básica da geoengenharia.
Recentemente, um experimento para testar a ideia de aspergir água do mar a uma altitude de 1 km na atmosfera, proposto por cientistas do Reino Unido, foi proibido pelas autoridades.
Vários cientistas já haviam alertado que a aspersão dos aerossóis poderia ter como efeito esbranquiçar o céu. Mas agora o efeito foi quantificado.
Vermelho vence o azul.
Ben Kravitz e seus colegas da Instituição Carnegie para a Ciência, nos Estados Unidos, demonstraram que as partículas de sulfato que alguns propõem lançar no ar causariam um maior espalhamento da luz solar na atmosfera.
Isto reduziria em cerca de 20% a quantidade de luz que viria diretamente para o solo, tornando o brilho do Sol mais difuso, mais "apagado", dando um tom esbranquiçado ao céu.
O azul do céu vem da luz sendo refletida pelas moléculas no ar. Esse espalhamento da luz é muito mais forte para os comprimentos de onda mais curtos - na faixa do azul - do que nos comprimentos de onda mais longos - na faixa do vermelho.
As partículas de aerossol que alguns cientistas planejam jogar na atmosfera, contudo, são muito maiores do que as moléculas do ar.
Com isso, elas causariam uma difusão muito mais forte da luz vermelha, "lavando" o azul produzido pelas moléculas menores.
Isto tornaria o céu mais brilhante e virtualmente branco.
Segundo os pesquisadores, o efeito gerado seria similar ao que ocorre depois de grandes erupções vulcânicas. 
Um mecanismo proposto por defensores da manipulação do clima em escala planetária - a geoengenharia - teria o mesmo efeito que uma erupção vulcânica de grandes proporções - só que afetando o mundo inteiro. [Imagem: Cortesia de Alice Birkin
Efeitos imprevisíveis.
Os efeitos iriam além da simples aparência do céu, que ficaria de 3 a 5 vezes menos azul.
Segundo os pesquisadores, os efeitos afetariam diretamente a geração de energia solar, uma vez que uma quantidade de luz muito menor chegaria até os painéis solares.
Um outro estudo também já havia demonstrado que o "sombreamento" artificial da Terra pode desacelerar ciclo global da água.
Mas as autoridades que proibiram os primeiros experimentos de geoengenharia, assim como os próprios cientistas que criticam essas propostas, baseiam-se, sobretudo em que é virtualmente impossível calcular todos os efeitos gerados por uma manipulação do clima em escala planetária.
"Esses resultados dão às pessoas uma coisa a mais para considerar antes de decidirem se nós realmente queremos seguir por esse caminho," disse Kravitz. "Embora nosso estudo não tenha tratado sobre os possíveis impactos psicológicos sobre essas mudanças no céu, eles também devem ser considerados."
"Eu espero que nós nunca cheguemos ao ponto em que as pessoas considerem a necessidade de aspergir aerossóis no céu para combater o aquecimento global. Este é o tipo de estudo que eu não gostaria de ver comprovado na prática por uma camada estratosférica de aerossóis no mundo real," disse Ken Caldeira, coautor do estudo.
Bibliografia:
Geoengineering: Whiter skies?
Ben Kravitz, Douglas G. MacMartin, Ken Caldeira
Geophysical Research Letters
Vol.: 39, L11801, 6 PP., 2012
DOI: 10.1029/2012gl051652

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