sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

CARAUARI - JURUÁ (1ª PARTE)

Hiram Reis e Silva, Juruá, Amazonas, 14 de fevereiro de 2013.
Nossa passagem por Carauari, AM, foi bastante gratificante. Desde nossa chegada até a partida os Policiais Militares, comandados pelo 2º Ten PM Alain Nalon Ferreira de Menezes, do 5º Grupamento de Polícia Militar, não pouparam esforços para tornar a nossa permanência na pequena, mas muito simpática cidade, a mais agradável possível. Através do Venerável Santiago e do Ten Alain conhecemos o Prefeito Chico Costa que nos concedeu uma interessante entrevista e proporcionou-nos gratuitamente a estadia no Hotel Monteiro e alimentação no Restaurante Bom Gosto. 
Na véspera de nossa partida realizamos, de forma expedita, tendo em vista a exiguidade do tempo disponível, o cálculo das áreas dos diversos bairros da cidade. Poderíamos ter realizado um trabalho mais acurado se o tivéssemos realizado a pé e não motorizado como foi. O Sd PM Charly Mota Fernandes, que dirigiu a viatura da PM, conhecia perfeitamente o Plano Diretor da cidade, mas esbarrou em um sério obstáculo técnico – as chuvas tornaram o acesso a algumas ruas impraticável, teríamos de fechar o cálculo utilizando os resultados apurados pelo meu GPSmap 62sc da Garmin acrescidos de um pequeno percentual estimado para compensar. 
O Venerável José Santiago Magalhães, da Loja Maçônica Cândido Honório Soares Ferreira nº 30, do Oriente de Carauari, AM, realizou conosco um tour pela cidade que só não foi completo devido às péssimas condições da estrada que liga Carauari a seu Porto no Juruá construído próximo à Comunidade do Gavião. Carauari na sua origem foi construída às margens do Juruá, mas com o passar do tempo o tumultuário Rio resolveu procurar outros rumos e hoje a mesma está assentada em um grande e assoreado Lago que permite o acesso de embarcações maiores apenas na época das cheias. A construção do Porto à margem esquerda, na região de Gavião, viabiliza o acesso de mercadorias à cidade no verão amazônico desde que a estrada, de aproximadamente 8 km, apresente condições de trafegabilidade. Mais uma vez observamos que o Porto, localizado em uma curva, suporta toda a impetuosidade das águas do Juruá que incidem sobre o local e que acarretarão, futuramente, vultosos recursos para a sua manutenção além de exigir dos práticos e pilotos muita perícia para aportar suas embarcações em pleno inverno amazônico. O Venerável Santiago tornou-se mais um destes caros amigos investidores já que os membros de sua Loja brindaram-nos com alguns gêneros alimentícios necessários para nossa nova etapa.
Carauari – Comunidade Concórdia (08.02.2013)
Acordamos cedo, telefonamos para o 190 e imediatamente uma viatura da PM estava a postos para nos levar até o porto. O Mário tinha deixado as três embarcações em um flutuante ancorado no meio do Lago de Caruari.
Partimos com a ideia fixa de percorrer um Furo que nos pouparia de percorrer novamente o braço do Lago percorrido na chegada. Não tivemos dificuldade em achar a entrada do Furo, mas mais adiante, por estas coisas do destino, eu e o Marçal enveredamos por um longo e tortuoso descaminho que era tão longo quanto à rota original. Quando chegamos novamente ao Juruá, na altura da Comunidade Gavião, o Mário nos aguardava aflito há mais de 90 minutos.
Nossa pequena aventura não abreviou distâncias e o tempo, mas valeu pelas belas imagens dos igapós infindos, pelos lagos de águas negras, pelas imensas bromélias que enganchadas no alto dos galhos ostentavam orgulhosamente suas flores, passamos por enormes bandos de uacaris que faziam acrobacias na copa das árvores despreocupados com os dois canoístas que navegavam muito abaixo deles.
Uacari-branco (Cacajau calvus): primata do gênero Cacajao, encontrado originariamente na Amazônia brasileira. A pelagem é laranja-pálido, amarelada, acinzentada ou esbranquiçada, a região do ventre e a cauda alaranjada ou amarelada e a face e as orelhas avermelhadas são desprovidas de pelos.
Chegamos ao Porto de Carauari e o Mário, que nos aguardava na Comunidade Vila Nova, veio juntar-se a nós. A progressão foi tranquila e aportamos por volta das duas da tarde na Comunidade Concórdia depois de navegar 90 km. Verificamos com os ribeirinhos que nenhuma das três próximas Comunidades que tínhamos planejado pernoitar antes de chegar a Juruá, confirmadas em Carauari, existia. Reprogramamos nosso planejamento ciente da dificuldade de alcançar Juruá em apenas cinco dias.
Comunidade Concórdia – Casa Abandonada (09.02.2013)
Partimos cedo antes do alvorecer e mais uma vez constatamos uma série de erros nos mapas do DNIT. Parece que a localização das Comunidades no Mapa Multimodal foram feitas apenas no Cartório dos Municípios sem a devida checagem através dos trabalhos de campo. Antigos seringais extintos há mais de cinco décadas lá estão, pequenas Comunidades são referenciadas enquanto as maiores ficaram de fora, nomes e localizações erradas, enfim praticamente de nada estava servindo o Mapa do DNIT.
Paramos na Comunidade Uniãozinha (região onde se localizava o antigo Seringal União) e fingi não ter notado que o morador local tinha ido até sua moradia buscar uma espingarda. Passado o impacto inicial, em que mais uma vez nos tomavam por bandoleiros ou traficantes, ele foi esclarecendo uma a uma nossas indagações sobre as próximas Comunidades e suas respectivas distâncias, em praias é claro. Íamos procurar a residência de um compadre seu, Sr. Pedro Glicério, que morava em uma Comunidade abandonada.
Antevendo problemas como os que aconteceram em Imperatriz, onde não fomos autorizados a pernoitar, resolvi, doravante, despachar o Mário à frente quando faltassem uns quinze quilômetros para atingir nosso objetivo evitando que nos fechassem as portas novamente. O Mário trocou o motor rabeta de 15 hp pelo 40 hp e partiu célere para fazer os devidos arranjos para nosso estacionamento. Como já tínhamos remado mais de 90 km resolvi parar em uma casa abandonada, 27 km à jusante da extinta Comunidade de Caitetu e próxima da Comunidade da Campina indicada no mapa do DNIT e que absolutamente não existia, onde três pescadores de Carauari estavam acantonados. O Marçal improvisou o fogo no que restava de um fogão para preparar nosso “almojanta” enquanto eu lançava os dados coletados no computador e o Mário preparava a lancha para a nova jornada. Foi uma noite tranquila sem galos, porcos ou cachorros para nos incomodar.
Casa Abandonada – Comunidade Juanico (10.02.2013)
Reprogramei nossa próxima parada para Juanico a 120 km de distância, foi um dia exaustivo sob uma canícula impiedosa, as contraturas começavam a aparecer e usamos um gel mento-salicilado para tentar suportar as incomodas dores musculares. As dores lombares começaram a aparecer, minha coluna veterana com três cirurgias no currículo se ressentia do esforço diário de remar nove horas diárias. Quando faltavam 90 minutos para aportar na Comunidade despachei o Mário para que ele realizasse os devidos ajustes para nossa permanência na Comunidade.
Chegamos à Comunidade Juanico depois de remar exatas nove horas diárias em um percurso de 120 km, mantendo uma média horária de 13,3 km/hora incluindo as quatro paradas para hidratação no talvegue do Rio Juruá. As “paradas dinâmicas” a bordo têm duas vantagens em relação às “paradas estáticas” nas margens, a primeira e mais importante é que não ficamos sob o ataque dos piuns e a segunda é que a correnteza nos arrasta permitindo que este “repouso ativo” progrida algumas centenas de metros a cada uma chegando a somar mais de um quilômetro no final do dia.
A Comunidade está corretamente localizada no mapa do DNIT, mas chama-se Juanico e não Juanito como consta do Mapa Multimodal. Quando chegamos à Comunidade o Mário já tinha montado acampamento no flutuante do Sr. Manoel Pereira de Moura e sua esposa Sra. Maria Antonia Albuquerque de Moura já estava preparando nosso almoço que foi incrementado com alguns peixes que o Mário tinha pescado e miúdos de pirarucu.
Fomos, mais tarde, convidados para jantar. A refeição constava de carne de Paca, Matrinxã e de sobremesa suco de açaí. Depois do jantar estávamos conversando do lado de fora da casa flutuante quando pousou a arara de estimação da família. O belo animal foi resgatado de um lago quando pequeno e sobreviveu graças aos cuidados dispensados. A ave passa o dia perambulando pela mata e retorna ao flutuante apenas de tardezinha para comer e dormir. O Sr. Manoel nos deu informações valiosas para o dia seguinte e decidimos pernoitar na Comunidade Forte das Graças.
Investimento em Soberania
Mais uma vez apelamos a nossos investidores para que continuem colaborando, cada um dentro de suas posses, para que possamos cumprir a meta de chegar a Manaus. Aqueles que ainda não conhecem nosso projeto peço que visitem o Blog: http://www.desafiandooriomar.blogspot.com
Conta Bancária de Hiram Reis e Silva
Banco do Brasil (001) - Agência: 4848 - 8
Conta Corrente: 117 889 - X
CPF: 415 408 917-04
Endereço: Rua Dona Eugênia, 1227
CEP 90630-150 - Porto Alegre - RS
Telefone: (51) 9234 2378
Livro do Autor
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS e na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br). Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

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