domingo, 24 de fevereiro de 2013
JURUÁ - TEFÉ (1ª PARTE)
Hiram Reis e
Silva, Flutuante Cauaçu, Amazonas, 19 de fevereiro de 2013
“A partida para o
Alto Purus é ainda o meu maior, o meu mais belo e arrojado ideal. Partirei sem
temores; e nada absolutamente me demoverá de
tal propósito”.
(Euclides da Cunha)
O início de minha Expedição pelo
Juruá foi carregado de incertezas, dificuldades e obstáculos de toda a ordem, o
bom senso recomendava que eu abortasse a Missão. Esta era, porém, uma
oportunidade única de desbravar novos horizontes, navegar por estes “brasis ainda sem Brasil” tão desconhecidos
dos nacionais e olvidados pelo poder público, perlustrar infindos meandros do
serpenteante Juruá, conhecer novas gentes e, sem dúvida, de ter a ventura ímpar
de fazer parte de uma Expedição histórica que desceria de caiaque, pela
primeira vez, na história do tumultuário Juruá, percorrendo-o na sua
integralidade. Tudo conspirava contra, mas as palavras do imortal Euclides da
Cunha, meu escritor favorito, retumbavam na minha mente e me impulsionavam a
continuar. Henry Ford dizia que “existem
mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. Eu podia até
fracassar, não concluindo a missão sucumbindo aos inúmeros fatores adversos identificados
desde o planejamento, mas desistir nunca. Esta opção jamais foi considerada, eu
ia reconhecer o Juruá me empenhando de corpo e alma como se esta fosse a Missão
mais importante de toda minha vida. Eu estava confiante, embora ciente das
agruras que iria encontrar nestes “ermos
dos sem fim”. Como oficial de engenharia de construção aprendi a superar,
improvisar, criar, a buscar recursos onde fosse necessário e não seria agora
que as dificuldades logísticas iriam comprometer este projeto.
Inconstante Juruá
“A inconstância tumultuária do Rio retrata-se ademais nas suas curvas
infindáveis, desesperadoramente enleadas, recordando o roteiro indeciso de um
caminhante perdido, a esmar horizontes, volvendo-se a todos os rumos ou arrojando-se
à ventura em repentinos atalhos...”
(Euclides da
Cunha)
Nos Municípios ao Norte da
Bacia do Juruá no Estado do Amazonas as aulas só se iniciam após as cheias
enquanto ao Sul elas começarão agora e serão interrompidas quando as águas da
grande alagação chegarem. O comportamento do Rio influencia sobremaneira a vida
dos ribeirinhos e é preciso conhecer os segredos de sua hidrodinâmica para
administrar corretamente o cotidiano dos que vivem às suas margens. Os Rios de
planície tem um comportamento bastante diverso de seus irmãos que fluem por
terrenos mais acidentados onde a variação do nível das águas é praticamente
uniforme em seu todo curso. Um infindável número de Lagos, Sacados e Igapós sangram
ferozmente as águas do Juruá até que estejam nivelados ao tumultuário Rio
determinando que a cheia se processe progressivamente por platôs. É
interessante observar suas águas fluindo para maioria dos pequenos afluentes
transformando-o, temporariamente, em tributário de seus próprios afluentes. As
cheias se processam, portanto, por setores já que as águas do Rio são drenadas
intensiva e inexoravelmente desde sua nascente.
As escuras marcas no caule das
árvores deixadas pela última alagação mostravam nitidamente este comportamento
peculiar. Em Carauari, quando por lá passamos, a marca estava a apenas 50 cm do nível do Rio
enquanto que no Município de Juruá, uma semana mais tarde, mais abaixo,
faltavam 2,50 m
para atingi-la.
Juruá – Comunidade Estirão das Gaivotas (16.02.2013)
Aprontamos
nossas tralhas e, às 05h30, antes mesmo de telefonar para a Polícia Militar a
viatura já estava a postos. Partimos rumo à Comunidade Saudade, a única das três
contempladas no Mapa do DNIT que realmente existia. Há pouco mais de sete
quilômetros passamos pelo Arrombado do Batalha, que parece ser o único furo que
sofreu intervenção institucional no Rio Juruá. O então Prefeito Raimundo
Batalha Gomes determinou que seu pessoal escavasse um furo para abreviar os
deslocamentos de quem demandasse do Juruá para o Solimões.
Marcamos
a foz do Rio do Breu e entramos no braço Ocidental do Juruá onde se encontra a
Ilha de Antonina. A formação de Antonina foi similar à das Ilhas de Marari e Chué,
o Rio do Breu tangenciava o Juruá até que o barranco que separava os dois
caudais foi rompido criando a lha de Antonina. No início a largura deste canal
era a mesma do Rio do Breu que o originou e com o passar dos anos solapado pela
energia das alagações foi se transformando no talvegue do Rio enquanto o braço
Oriental foi, aos poucos, perdendo sua importância.
Depois
de remarmos 70
quilômetros comecei a me sentir mal. Meu coração batia
muito rapidamente e fiquei preocupado com a pressão, chamei o Mário que me
alcançou imediatamente meu kit de medicamentos e tomei três remédios para
baixar a pressão. Melhorei um pouco e retornamos aos remos, a jornada era longa
e não podíamos nos dar ao luxo de perder tempo. O sol a pino e a ausência de
ventos transformara o Juruá num imenso espelho a refletir a abóboda celeste e
as nuvens. Era um momento mágico e eu absorto navegava ou flutuava mesmo sobre
nuvens em busca da Terceira Margem.
Dez
quilômetros antes do que eu achava ser o nosso destino, a Comunidade Saudade,
despachei o Mário para fazer contato, e para nossa surpresa depois de uma curva
avistamos um povoado que, mais tarde, ficamos sabendo se tratar da Comunidade
do Estirão das Gaivotas. Imediatamente eu e o Marçal nos refugiamos nas
canaranas aguardando o resultado das negociações do Mário temerosos de que
aparecendo comprometêssemos a transação. Depois de algum tempo fomos ao
encontro do Mário que, para nossa surpresa, vinha ao nosso encontro. Achamos
que mais uma vez tinham nos fechado as portas e desanimados aguardamos nosso
companheiro. Ele vinha ao nosso encontro informar que o Secretário
extraordinário de Juruá o amigo José Arribamar já tinha passado por ali e
recomendado que pernoitássemos no Estirão das Gaivotas já que esta era a única Comunidade
que possuía uma escolinha para nos abrigar nos próximos 60 km.
Investimento
em Soberania
Mais
uma vez apelamos a nossos investidores para que continuem colaborando, cada um
dentro de suas posses, para que possamos cumprir a meta de chegar a Manaus.
Aqueles que ainda não conhecem nosso projeto peço que visitem o Blog:
Conta
Bancária de Hiram Reis e Silva
Banco
do Brasil (001) - Agência: 4848 - 8
Conta
Corrente: 117 889 - X
CPF:
415 408 917-04
Endereço:
Rua Dona Eugênia, 1227
CEP
90630-150 - Porto Alegre - RS
Telefone:
(51) 9234 2378
E-mail: hiramrs@terra.com.br
Livro
do Autor
O
livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o
Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na
Livraria EDIPUCRS – PUCRS e na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br).
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false
Coronel de
Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da
Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Membro da Academia de História Militar Terrestre
do Brasil – RS (AHIMTB – RS); Membro do Instituto de História e Tradições do
Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
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