quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
O AVESSO DAS PALAVRAS
Escrito
por Dartagnan Zanela
Eleger
a busca pelo prazer como causa final da existência é um poderoso elemento
desagregador da personalidade
Quanto mais uma palavra é utilizada, mais epidérmico torna-se seu significado.
Sua única serventia é encobrir, mal e porcamente, a turva alma de seu
repetidor. De mais a mais, como bem nos ensina o filósofo Tarcísio Padilha, em
seu livro ‘Filosofia, Ideologia e Realidade Brasileira’, quando se fala muito
em liberdade, democracia, ética, amor, respeito, educação, etc., desconfiemos!
Provavelmente, os valores representados por elas estão sendo distorcidos ou
mesmo, como ocorre em muitos casos, sorrateiramente eliminados.
Em regra, essas palavras são repetidas a exaustão
não porque o sujeito acredite piamente no que elas representam, mas sim, porque
ao aderir ao coro da vanguarda papagaiesca ele sente-se uma pessoa, como direi:
muito legal, superior a todos por, supostamente, respeitar as diferenças, menos
aquelas que não se enquadrem em seu imaginário distorcido, e que não ascendam aos
píncaros da (in)compreensão em seu intelecto, já amortecido pelo uso excessivo
destas expressões não significativas que pouco ou nada dizem a respeito da
realidade. Mas que externam, sutilmente, o universo subjetivo de sua alma
carcomida pelo rancor.
Penso que este fenômeno tem uma relação umbilical
com o hedonismo crescente da sociedade atual e que, por sua deixa, colabora de
modo profícuo com a expansão do relativismo moral. Aliás, eis aí um ponto que
merece ser meditado à luz do que fora exposto acima. Uma alma embebida no
néctar hedonista coloca a necessidade de satisfazer sua ânsia por prazer como
valor primeiro, invertendo, de modo sórdido, a ordem axiológica, como bem nos
ensina Miguel Reale em sua obra “Filosofia do Direito”. Ora, eleger a busca pelo
prazer como causa final da existência é um poderoso elemento desagregador da
personalidade. Basta, para perceber esse óbvio ululante, apenas uma pequena
dose de sinceridade.
Doravante, tão rápido quanto um corisco, estes se
escudam com aquele relativismo moral chinfrim, para o qual, todos os valores
são relativos e toleráveis, desde que a sua forma de viver e interpretar a vida
seja aceita de maneira absoluta por todos, sem hesitação. Resumindo: tolera-se
tudo, menos o que os contraria.
Essa é a ditadura do relativismo, a apologia duma
moral autônoma e egocêntrica, como nos lembra o Papa Bento XVI, que anseia por
edificar uma visão redutivista do ser humano através dum sorrateiro uso de
expressões ambíguas para melhor dissimular as reais intenções que estão,
melindrosamente, por trás de todo esse bom-mocismo forçado. Bom-mocismo que
despreza o bem ao mesmo tempo em que diz representá-lo. No fundo, é isso que se
encontra no fundo desta alcova rasa.
Esse trem é tão ridículo que chega a dar vergonha
do compadre. Sei disso. Porém, não nos preocupemos, porque o grotesco também
está sendo relativizado para que ninguém se sinta mal diante da verdade
revelada pelos fatos.> (http://zanela.blogspot.com)<
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