sábado, 2 de fevereiro de 2013
O FUTURO JÁ CHEGOU?
Leia esta história:
‘Meu avô com noventa e tantos anos, estava sentado no banco do jardim
olhando suas mãos. Sentei-me ao seu lado e lhe perguntei se estava bem. Ele
levantou a cabeça e sorriu:
– Estou bem, obrigado – disse em voz suave. – Alguma vez, querido, você
já olhou suas mãos?
Lentamente as abri e contemplei. Virei as palmas para cima e para baixo,
fiquei sem palavras e não sabia exatamente o motivo da pergunta. Então, meu avô
explicou:
– Pense um momento sobre como suas mãos têm lhe servido através dos anos.
As minhas, hoje enrugadas, secas e débeis, têm sido ferramentas que usei toda a
minha vida para pegar e abraçar. Elas puseram comida em minha boca e roupa em
meu corpo. Quando criança, minha mãe me ensinou a juntá-las em oração.
Estiveram sujas, esfoladas, ásperas e dobradas. Mostraram-se inábeis quando
tentei embalar minha filha recém-nascida; decoradas com uma aliança, revelaram
ao mundo que eu amava alguém muito especial.
Comecei a entender que aquela conversa reservava momentos de muita emoção
e resolvi prestar mais atenção quando meu avô continuou:
– Elas tremeram ao enterrar meus pais, minha esposa, e suaram quando
entrei na igreja com minha filha no dia de seu casamento. Estas mãos têm
penteado meu cabelo, lavado todo meu corpo e, até hoje, quando quase nada em
mim funciona bem, estas mãos me ajudam a levantar, a sentar e ainda se juntam
para rezar. Elas são as marcas de onde estive e, o mais importante, são estas
mãos que Deus tomará nas Suas quando me levar à sua presença.
Desde então, nunca mais vi minhas mãos da mesma maneira, e lembro
perfeitamente quando Jesus esticou Suas mãos, tomou as de meu avô e o levou.
Agora, sempre que uso as mãos penso em meu querido avô. Jamais esquecerei que,
na verdade, nossas mãos são uma benção!’
E você, leitor, o que está fazendo com suas mãos? Elas expressam carinho
ou repulsam os outros? Preciso dizer-lhe para dar graças a Deus por elas, pois
somente aqueles que amam com o coração limpo têm motivos para se orgulhar das
mãos que receberam.
Sem medo de errar, posso afirmar que as mãos do nosso tempo não são como
as de antigamente. Quando criança, ladrões só apareciam de vez em quando e
nossa única preocupação em relação à segurança era a de que os ‘lanterninhas
dos cinemas’ nos expulsassem pelas batidas de pés nas matinês de domingo. Mães,
pais, professores, avós, tios e vizinhos eram autoridades presumidas, dignas de
respeito e consideração. Confiávamos plenamente nos adultos.
Tínhamos medo apenas do escuro, de sapos, de filmes de terror. Hoje, dá
tristeza por tudo que perdemos, por tudo que meus netos um dia temerão, pelo
medo no olhar de crianças, jovens e velhos. Matar os pais, os avós, sequestrar,
roubar, passar a perna, tudo virou banalidade de notícias policiais, logo
esquecidas após o primeiro intervalo comercial.
Dizem abertamente que não levar vantagem é ser otário e pagar dívidas em
dia é bancar o bobo. Há milhares de ladrões nas esquinas das cidades grandes,
assassinos com cara de anjo no interior, pedófilos de cabelos brancos sorrindo
como se nada de grave estivesse acontecendo! O que há conosco? Professores
surrados em salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em
nossas janelas, recém-nascidos morrendo de fome! Que valores são esses?
Os carros valem mais que abraços, celulares coloridos são encontrados nas
mochilas dos recém-saídos das fraldas, TV ligadas o dia todo, DVDs com filmes
pornográficos, vídeos-game de matança... O que mais virá em troca de um abraço?
Mais vale um baseado do que um sorvete, mais valem dois vinténs do que um
sorriso!
Fico pensativo quando leio isto nos blogs:
“Quando foi que o que existia de bom sumiu ou virou ridículo? Quando foi
que esqueci o nome do meu vizinho? Quando foi que olhei nos olhos de quem me
pede roupa, comida, calçado, sem sentir medo? Quando me fechei ou me fecharam?
Posso querer de volta a minha dignidade, a minha paz? Tenho o direito de sentar
na calçada e ficar com a porta aberta nas noites de verão? Quero a vergonha e a
solidariedade de volta à minha vida! Abaixo o ‘ter’! Viva o ‘ser’!”
Bem, se você e eu fizermos nossa parte bem feita e contaminarmos mais
pessoas, muita coisa poderá melhorar. Também temos que rezar mais para Nossa
Senhora nos abençoar.
*Paulo Roberto Labegalini-Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de
Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.(PAZ).
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